segunda-feira, 29 de novembro de 2021

Semente minha

                                                                           http://www.blogdopilako.com.br/wp/wp-content/uploads/maos-idosas.jpg

 Meu coração em festa

Celebra minha semente

Semente qual terra da terra, Aracy

Me empresta seu vigor, sua tenacidade.

Dela, uma pele lisa, quase sem as obras do tempo

Negros cabelos, porém cacheados

Sorriso generoso e o colo terno

Minha lembrança mais marcante!

Hoje esta semente floresce sua 98ª primavera

Cercada  de flores e outras sementes

Engravidando a Mãe Terra de beleza, vigor e força!

sábado, 27 de novembro de 2021

Alma brasileira cansada

    

                                                                                                          https://iloveflores.com/pau-brasil/

     O Brasil está cansando o brasileiro. Percebo que faço 'hora extra' todos os dias. Desperto quando ainda está escuro. Nada que mereça ser levado em conta, afinal é a realidade da maioria dos brasileiros, não a minha.  Pouco mas, o bastante eu tenho. Uma vida frugal e 'monástica', cuido de alguém que me é caro. Pelo menos temos uma vida digna. Me pergunto, e quem precisa 'matar um leão' para comer para alimentar a família? Esses estão tentando ganhar cestas básicas, na fila do Auxílio Emergencial, vendendo paçoca no sinaleiro. Aí você para para comprar e a criança fala empolgada - estou empreendendo! 

    Não sabia que esses 'tubarões' do financismo começaram vendendo paçoca... Conta para esses 'empreenderes', que a inspiração deles iniciou sua fortuna a 400 anos atrás quando a família dele(a), ganhou da Coroa Portuguesa um 'lote' enorme chamado "Capitania Hereditária". Daí foi só explorar a terra, matar milhões de índios, continuar 'puxando o saco' de quem estava no poder, comprar 'a peso de ouro' algum político, escravizar a mão de obra de ontem e de hoje. Assim o jovem de hoje será um empreendedor de sucesso! 'Tu é que não estuda prá ver'! Acontece que os herdeiros das capitanias sabem disso desde o início, então sempre boicotaram que a população tivesse uma boa educação, ou melhor que o governo cumprisse seu papel e oferecesse esse serviço.

     Quando penso que muitas pessoas trabalham fora e são cuidadoras como eu?  Meu cuidar é de uma deficiente, estes o capital decidiu serem descartáveis por não produzirem riqueza para ele. Aprendi com essa vivência, olhar para os lados, perceber o sofrimento das pessoas. O lixo que jogamos fora atrai a atenção de animais e seres humanos 'animalizados' como no documentário "Ilha das Flores". Com a vida 'pela hora da morte' o brasileiro trabalha sem saber se o fruto do seu suor será o suficiente para viver. A luta é diária. Uma escravidão de viver a troco do pão e encher o cofre de quem sempre saqueou o Brasil e seu povo. Somos números. Estamos condenados a sermos pela eternidade "Os condenados da Terra". Para que poucos sejam servidos, vidas são trituradas numa 'máquina de moer gente' e jogadas fora como bagaço da cana que enriqueceu  muitos. Mas não só. O café enriqueceu outros herdeiros que estão sujos pela "Mancha de café' nas Minas do ouro. Esse último construiu reinos no velho continente...

    O que percebo é que nosso cansaço é secular. Um povo de quem foi retirado o sumo em suor, sangue e lágrimas.  Esse povo cansado de vagar em busca de um norte que os mantenha no rumo da dignidade. Mas essa busca nem sempre resulta em alívio. Nossa busca, outra vez resulta em mais lágrimas. Assistimos esses dias os poderosos, empoderados por nós e que devolveram desesperança, tristeza e dor. Esses ainda são semente que o vento espalha e brotam teimosas. Conceição Evaristo disse "Combinaram nos matar. Mas nós decidimos não morrer". O plano deles é nos calar, nos manter submissos, porém o nosso cerne é Pau Brasil, de dureza e cor de sangue, e delicada flor amarela de miolo vermelho que é nossa alma


Ilha das Flores <https://www.youtube.com/watch?v=FIRLNeNzMAk>

Os condenados da Terra - Frantz Fanon <https://drive.google.com/file/d/1O2IIi6oInvsERLVVe8iNOPnoXWzQzh7-/view?fbclid=IwAR1loYM_tYqHv-CI_Mt75df1DXiR42-TUlj7wcojfa_504IgZ32ClLXNmSQ>

Mancha de café <https://youtu.be/zRgw9B8sf0o>

quinta-feira, 25 de novembro de 2021

uma certa estátua, em um certo lugar

    

https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgDtYvNNbNlJL6XHCIvNThKxT6f0x-OmsDIgk5hFmTwqNlHxdd7vDnlyUNe39rbNVbIs8EltCaHCbM7SM1BfdefIlAYZ82R4_HIuqJ6d_HPHcy16QP4ojXngqXaOfgJztfamyKyEY0hVi0/s1600/escultura+1+20090915_o_pensador_rodin.jpg

           Li ‘O conde decaído’ de Eliane Brum onde a autora conta as desventuras do personagem (estátua), me indaguei – para que elas servem mesmo? São uma homenagem a alguém que prestou algum serviço ou desserviço – depende de quem olha – à sociedade. Recentemente, uma foi chamuscada sem sérias lesões, a não ser na sua imagem histórica.

Pelo mundo a fora foram arrancadas, derrubadas e até afogadas. O que causou horror dos historiadores. Entendo o valor histórico, os homenageados, decerto alguma coisa para bem ou para mal fizeram. Mas alguns são questionáveis quando confrontados com uma visão diversa.

Nossa atualidade talvez gere muitos ressentimentos  até mesmo a fúria na sociedade que tenha o desplante de homenagear figuras que causam asco o pronunciar do nome. Ouso dizer que poucos personagens da história atual subam ao pedestal da praça pública. Estudando Educação Patrimonial aprendi que o patrimônio deve ser reconhecido e respeitado pela comunidade e não o resultado do poder financeiro do homenageado ou de quem homenageia.

Sai mais em conta, fazer um busto e doar a um museu. Com essa atitude, pouparia  o homenageado de ‘decair’ a urinol público e/ou serem alvo preferenciais dos pombos.Economia de material.

 

domingo, 21 de novembro de 2021

Os dedos magros da pobreza

 
                                                                                        https://statig1.akamaized.net/fw/41/kb/xw/41kbxwwbardtx6y7p74m5u30s.jpg

Quando li esse capítulo no “O meu pé de laranja lima” de José Mauro de Vasconcelos, estava no 5º Ano. Emocionei-me ‘de montão’. Como criança que era, não entendia como outra criança poderia ter a comida regrada, não ganhar presente de Natal, e ter uma vida sofrida. Com o meu contexto seria difícil não pensar assim!

Meu pai era funcionário público federal (agente de portaria do Ministério do Trabalho. Não se engane, o nome parece pomposo mas se pudesse falar em ’escalão’ seria negativo...  branco, minha mãe negra e quatro filhos, pagando aluguel. Graças a uma bolsa integral doada por um deputado estudava em um colégio de freiras. Convivia com os filhos da burguesia da cidade.  Que me lembre lá estudavam mais duas meninas negras além de mim, contudo não me julgava igual a elas, por ter pele clara.

Aos ‘trancos e barrancos’ me formei e hoje reconheço que pensava que todos tinham formação igual a minha. Ledo engano. Não reparava em minha própria casa. Meus dois irmãos estudavam em uma pequena escola mantida pela comunidade. Como não reprovei nenhuma vez a bolsa passou para o mais velho que formou na mesma escola que eu e mais tarde o outro irmão. A ‘raspinha de tacho’ ‘herdou’ a bolsa quando entrou na dita escola, porém reprovou uma vez, decidiu mudar de escola e lá concluiu os estudos.

            Aos 15 anos  ganhei de Natal um porta-níquel e presente apenas a caçula ganhou – um disco de bebês. Mas fome, não. Necessidade, muitas vezes. Mas hoje fui ao supermercado fazer uma pequena compra. Ao entrar vejo um  senhor negro na porta. Dei ‘bom dia’ e entrei. Ao sair, o senhor me pediu uma ajuda... Olhei para ele e envergonhada disse ‘, infelizmente, não tenho senhor’. Quase pedi desculpa por não ajudar!  

Quando se demora tanto para perceber o que acontece a nossa volta é isso que acontece.

Passamos vergonha!


sábado, 20 de novembro de 2021

Quando negamos nossa identidade

 

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Quando negamos nossa identidade, sentenciamos o futuro dos nossos. Mais lágrimas rolarão em faces negras. Negaremos o nosso existir como humanidade. Nosso pensar, nosso agir, nosso existir, passa a ter o valor que o outro quiser dar. Voltaremos a ser ‘peças’ como séculos atrás. Palavra da santa magna igreja “negros não tem alma”. Qual o contato com a divindade apoia essa afirmação? A mesma que crucificou o filho dele? Nossa alma está em toda criação. Sem a hierarquia que diferencia os iguais e põe valor na dignidade deles.

Quando negamos nossa identidade, negamos a nós. Abortamos nossos filhos, desistimos dos nossos netos. Decretamos o fim! O fim que nos desejam. Esquecemos que mesmo que cercados por desafios, e da morte os que nos antecederam fizeram de seu ventre nosso forte, e quando seus filhos eram arrancados de seus braços e vendidos, o leite que os alimentaria - outros bebês se fartaram e a mãe nem ao choro tinha direito. Então de dor suas almas se fortaleciam. Não desistiram dos viriam depois e lutaram como puderam para que as gerações futuras tivessem o tesouro que não tinham – a liberdade. Liberdade de sermos quem somos. Negros retintos ou de pele mais clara, por nossos antepassados não podemos ao nos negar e cair no laço que os escravizou!

Que não se repita a negação que propiciou irmão vender irmão, pai do filho abrir mão. Muitos trabalharam na liberdade e conseguiram libertar outros iguais. Não negue o tesouro que herdou. Não jogue foram o orgulho dos que virão! Não negue sua identidade e honre a Consciência que te antecedeu. Para que hoje possa escolher a liberdade ou o grilhão.

Defeito de cor

    

                                                     https://www.sescsp.org.br/files/programacao/4e9e5051/e17c/4632/b5d0/0a5609b4e868.jpg

A pele denunciava. O cabelo ‘disfarçava’. Assim a vida passa despercebida para quem não precisa garantir o pão. Nunca se questionou como a fruta não faltava, muitas vezes a ‘mais em conta’ da estação. Nem sempre o filé, mas carne nunca faltou, como o arroz, o feijão, o pão. A escola era a pública mesmo, os pais mandavam merenda, o caderno encapado, participava de todos os passeios escolares, trabalhos escolares caprichados, com ajuda dos pais ou não. Mochila e uniforme, ok. E assim cresceu alheio à desigualdade  que campeava na carteira ao lado. Ah! Mas os pais tem que prover isso! 

    Nunca se perguntou por que ao lado o colega estava sempre com o uniforme velho e surrado, de chinelo de dedos – quando não, descalço. Aí, na sua nascente empáfia, pensava “ele se veste como um mendigo”. Ele cresce, percebe que seus pais não compraram aquele jogo, ‘irado’, o tênis do ‘jogador’,  saiu da aula de inglês, nem na balada pode ir. Um ‘parça’ foi preso por ‘pegar emprestado’ um ‘headseat’ no shopping. Tinha dinheiro, mas foi educado com ‘tudo permitido’. O jovem tinha inveja o cabelo dele liso, fino e loiro. Interessante, não sentia inveja da situação financeira dele. 

    Sua família tinha posses, fazia viagens incríveis, mas  não parecia feliz. A competição minava o relacionamento dos pais. Avós com sobrenome alemão impronunciável e que erguiam a voz para pronunciar. Enquanto o outro, de sobrenome mais comum e que era da grande maioria de brasileiros. O que não sabiam, era que ao serem libertos os escravos passavam a assinar o sobrenome do seu ‘dono’. Sinal de ‘gratidão’. Contudo, o nome comum não impedia que a sua família fosse harmoniosa e alegre. Os pais sentavam-se e conversavam longamente sobre os problemas da casa, combinavam estratégias para controlar o orçamento e sobre a educação dos 3 filhos. 

    Começou a se atentar  nessas conversas: ‘o gerente tá no meu pé.’ ‘sou muito cobrado’, ‘ no banco, exigem cabelo baixo e curto’; ‘na escola tem aluno gravando a aula’; ‘ que aula de história é essa que não posso conversar com os alunos  sobre o contexto?’; ‘se me ajudar no jantar acabo com a louça mais cedo’. Percebia que mesmo com as dificuldades sobreviviam. Agora o rapaz começava ‘barítonar’ a voz e o coração acelerar por uma alegre jovem de cabelos cacheados ruivos. Quase desmaiou com um toque rápido das mãos para pegar um livro. Ao longe seguia a jovem ‘bebendo’ seu sorriso. O cupido começava a flechar os corações desprevenidos.

     Um dia, na saída da escola, viu parado um carro importado. e se estaca ao perceber que a jovem ia entrar. Então um senhor branco que a aguardava, o chamou e questionou se ‘queria alguma coisa’ , ‘que se não se aproximasse dela’, ‘vou queixar à diretoria’. O jovem entrou em pânico e sem olhar atravessa a rua correndo. Um policial na viatura perto da escola, o abordou com violência jogando-o no chão. bateu a cabeça e ficou desacordado.

     Sua mãe que trabalhava na escola correu para socorrê-lo e foi contida por outro policial, que de forma abrupta berrou que mantivesse a distância por que estavam abordando um ‘suspeito’. A mãe chorava desesperada. Os dois foram colocados na viatura e levados para delegacia.

    No noticiário noturno a manchete foi: RAPAZ NEGRO ATACA ESTUDANTE NA PORTA DA ESCOLA. Isso acontece todo dia em vidas com “ Um defeito de cor”.

sexta-feira, 19 de novembro de 2021

O meu cabelo não nega


                                                                         reproduçao

 Mas já negou!

Não por que eu queria. Mas um dia consenti não ser. Confuso? Eu explico. Sou filha de uma negra e um branco(?)  Brasileiro não conhece sua árvore genealógica completamente.Tava lá na minha certidão: “filha, Branca”. Tive uma infância comum e simples, como todo pobre. Freqüentei jardim de infância  e até minha formatura nessa escola a questão ‘cabelo’ não me incomodou. Na formatura, minha mãe ‘enrolou’ bobs - acho que assim que escreve – para ficar apresentável. Não deu outra – cabelo armado – fiquei com a aparência envelhecida e pouco a vontade. A partir daí, pensei que se cortasse ele como um planta rebrotaria melhor... Decepcionada entendi que plantas rebrotam com as mesmas características. Afinal se era uma jaca não tinha como brotar um tomate.

                                                                reprodução
Comecei perceber que minha mãe e tias passavam produtos nos cabelos para ficar com a aparência de liso. Estava decidido. Iria passar o produto.Infernizei a cabeça da minha mãe - uma cabeleireira. Mas precisei esperar meus 12 anos. Nesse ínterim, apontavam que o cabelo crespo era indomável e ‘feio’. Passavam para mim o seu próprio preconceito, aprenderam a se negar desde cedo. Diziam que o ‘cabelo arrumado’ era mais ‘agradável’ aos olhos. Hoje compreendo que agiam assim para que a sociedade as aceitassem. Se não tivessem se negado, não conseguiriam alcançar melhores  situações na sua vida. Empregos, relacionamentos sociais e afetivos. Lembro-me de ficar incomodada quando revia a minha foto de formatura.
                                                             reprodução
Muitas meninas brancas, com cabelos lisos, me sentia ‘uma estranha no ninho’.  Até pouco tempo usei produtos fétidos que não me davam o que prometeram quando criança – o liso esvoaçante – pelo mesmo motivo da jaca convertida em tomate. Iniciava-se ali um novo tipo de escravidão – a do cabelo.  Perdi a liberdade de ir e vir aos 12 anos. Primeiro a necessidade de sempre ter um cabeleireiro ‘a mão’.  Pense em ver o mar, uma piscina, uma balada, um namoro sem – “não posso molhar o cabelo’! Quando negamos nossa identidade  ‘nos podamos’ o tempo todo. Só que nunca seremos a imagem que querem de nós. Por que a que querem é o ideal deles. Identidade é auto estima. é dar-se valor e acreditar que pode ser e chegar onde quiser. Nós  precisamos trabalhar isso em nós e em nossos filhos. Hoje construo minha vida a partir de mim, do que eu sou! Estou livre, feliz e com toda liberdade de chupar a vida até o caroço e me lambuzar!  

                                                                           reprodução


 

terça-feira, 16 de novembro de 2021

Perdi o sono


www.sinposba.org.br

Dormi o cansaço do dia, embalada pela fome. Uma benção dormir e enganar o vazio, que me devora faz esquecer o olhar inocente de minha filha que dormiu chorando pedindo pão. A fome dói e grita no meu ouvido a dela.. Diante da injustiça que assola - amanhã encontro trabalho, preciso confiar. Mais um dia de busca e de negativas. Qualquer coisa serve, uma trouxa de roupas – que me dê o sabão e o tanque e um pouco de arroz, com sorte até um trocado para trazer pão ou leite para alegrar o coração de Ninha. o sorriso dela, me mantém caminhando, mas o brilho vem se apagando dos olhos dela. Não me reconheço no caco de espelho, uma sombra que um dia fui. Tempo que o salário me emprestava dignidade, que era promessa de sonho,quando minha filha também tinha coleguinhas na escola e a merenda era a melhor parte! Mas também aprendeu a ler – queria ser professora, ensinava para a boneca que ganhou na igreja. Vida sem muito horizonte, apenas sobrevive, às vezes damos graças por terminar o dia vivas, quem sabe reclamo por mais um dia dessa sina? E a hora passa em gotas da goteira no telhado parece mais longa essa noite. Por que acordei? Dormindo não penso, não tenho fome, não adivinho a dela. Tomo água , e o tempo passa. D. Zenaide me chamou para fazer faxina, arrumo a Ninha, levo para escola, tenho farinha para um engrossado com água e um pouco de açúcar, também engano o bucho e torço que D. Zenaide ofereça lanche. A chuva aumentou. O barraco resiste bravamente. Esfriou, O vento passa pelas frestas, abraço Ninha esquento eu e ela, ela parece agradecer e se aconchega mais. O sono vence mais uma vez. Amanhã, será melhor. Quem sabe outra amiga de D. Zenaide tem mais roupa para passar ou faxina. Ô vida fudida! Não descanso pensando como sobreviver um pouco mais... Será que vale? Vale! Olho o sono dela e prometo tentar mais! Não pediu para estar aqui. Na desgraceira que nem eu me mantenho. A chuva parou! O velho relógio segue seu trilho. Hora de acordar Ninha para escola. Faço o engrossado, pelo menos com carinho, para compensar a simplicidade do desjejum. Na ida peço ao Sr.Joaquim uma banana despencada do mercadinho, aí completa o desjejum dela se Deus ajudar talvez sejam duas bananas e dê para mim.Cheguei na casa de D.Zenaide. O almoço é por lá Ninha almoça na escola e depois vai para casa da vizinha e me espera. Sabe que precisa se comportar senão D. Maria não cuida dela para eu sair e trabalhar. É uma senhora que tem idade de minha mãe que vive em Ressaquinha com meus 6 irmãos. Vida custosa. Mais alguém que sobrevive. Fácil, num é! Quando vim prá cá em BH buscava uma vida melhor, sonhava, mas aprendi que pobre não pode sonhar. Sonhar custa din-din. Vixe que mundaréu de janela e vidro pra limpar! Depois roupa para passar. camisas do Doutor. Almoço engoli olhando para a louça, mas feliz - D. Zenaide arrumou duas marmitas para eu levar para casa. A noite de hoje não teria fome no barraco. E amanhã Deus provê! Já quase anoitece. Acendo a única lâmpada e vejo Ninha comer satisfeita, também como louvando a comida. Depois é pensar: Que será amanhã?

 

sábado, 13 de novembro de 2021

Descoberta

 
                               https://cdn.pensador.com/img/imagens/10/fr/10_frases_de_autoconhecimento_incriveis_para_descobrir_quem_voce_e_f_l.jpg


 Adoro brincar de te descobrir,

 E numa busca cega te encontrar,

 Todo você,

Todo meu descobrir. 

Que sou você sendo eu.

 Te tatear,

 Te perceber,

 Me relaxar em gozo derreter,

Será eu? 

Será você? 

Nesse fluir, explodir! 

Nos olhos vibrar, 

De amor arfar 

E abraçada em você, 

Descobrir meu lugar! 

Onde somente nós sabemos chegar!

Bom dia, DIA DA MULHER!

                   Arquivo pessoal  Bom dia! Levei um tempo em perceber a importância desse dia! Não  a data! A importância  por si mesma ve...